Um precioso homem de Deus e amigo, John Noble, ao ver o título do meu livro "Sai da Frente! Quero ver Jesus!", me mandou a seguinte história que pedi para traduzir para o português e espero que seja uma benção para todos!
"NÃO CONSIGO VER JESUS!”
Um burburinho excitado enchia a escola primária Blitzkop. Empolgados com a chegada dos feriados de Natal, alunos corriam de um lado para outro enquanto funcionários exaustos tentavam restabelecer um mínimo de ordem e disciplina.
Pais corujas iam entrando no auditório para pegar os melhores lugares. Por trás das cortinas, alunos e professores finalizavam os últimos preparativos para o espetáculo. As asas dos “anjos” precisavam ficar firmes, sem entortar. Uma professora tentava prender os lençóis que fariam as vezes de roupas de pastores hebreus do século primeiro, para que ninguém tropeçasse e causasse um acidente. Outra estava colocando as coroas nas cabeças dos “reis magos”, e lembrando-os do significado de seus presentes – que por algum motivo estavam embrulhados em papel de presente do século vinte e um. Andiswa, estrelando no papel de Maria, arrumava seu lençol azul e discutia com Luthando, que faria José, sobre algo aparentemente muito importante. Andiswa nunca gostara muito de Luthando, com sua certeza de que meninos eram melhores que meninas, mesmo que estas sempre terminassem primeiro suas atividades e tivessem notas mais altas do que as dele.
A diretora, Miss Thofu, estava de olho em tudo, particularmente nos pais e convidados que chegavam e onde estavam se sentando. Sua preocupação, como sempre, era a opinião das pessoas sobre a escola – e ela se esforçaria ao máximo para causar uma boa impressão, especialmente com os visitantes mais “importantes” da cidade. Vendo que Thando Skosana chegara com sua esposa, apressou-se a acompanhá-los até os melhores lugares. O sr. Skosana não era apenas o gerente do banco mais importante da cidade; também era presbítero da igreja que a srta. Thofu frequentava, além de pai de Andiswa, de quem se esperava uma apresentação brilhante.
A plateia já estava quase completa e o público se preparava para o entretenimento da tarde, quando, de detrás das cortinas, a voz angustiada de Andiswa foi ouvida claramente: “Onde está Jesus, onde vocês o colocaram? Não consigo ver Jesus!” O riso tomou conta do auditório. O sr. Skosana não só não ficou envergonhado de sua filha como mal podia conter as gargalhadas. Seu corpo se sacudia com o riso contido, enquanto sua esposa, temendo que ele risse muito alto, o cutucava e olhava para ele de cara fechada. Ele acabou conseguindo abafar o riso enfiando na boca o lenço que carregava no bolso, e a apresentação anual da Natividade na escola primária Blitzkop prosseguiu sem mais delongas, com o público, no fim, sendo unânime em considerá-la a melhor de todos os anos.
No caminho de casa com Andiswa seus pais evitaram mencionar o divertido incidente, preferindo elogiar a atuação da filha. Mais tarde, depois de uma boa refeição em família, quando Andiswa já havia sido mandada para a cama, o sr. Skosana sentou-se com a esposa, conversando sobre o dia. Ao falarem da peça e da atuação elegante da filha, o sr. Skosana teve outra crise de risos: “Onde está Jesus? Não consigo ver Jesus” exclamava, imitando sua vozinha infantil. Dessa vez, longe dos olhos do público, a esposa juntou-se a ele, rindo até as lágrimas. Pelo resto da noite, vez por outra ele voltava a fazer voz de criança e gritar “Onde está Jesus, não consigo ver Jesus!”, e eles gargalhavam outra vez.
No dia seguinte, como de costume, o sr. Skosana saiu cedo para o trabalho, parando no caminho para pegar seu amigo Vuyani, cujo trabalho era próximo ao seu, e costumava pegar carona com ele para deixar o próprio carro com a esposa. Enquanto dirigia pelo trânsito mais pesado que o de costume, o sr. Skosana contou a Vuyani sobre o dia anterior. “E afinal”, perguntou Vuyani, “onde estava Jesus?” “Estava no berço, exatamente onde deveria estar”, respondeu o sr. Skosana, rindo tanto que quase não conseguia dirigir, “mas parece que alguém colocou tanta palha e cobertores em cima dele que escondeu o boneco, e Andiswa se assustou."
Os amigos seguiram rindo em meio ao trânsito, mas Vuyani ficou subitamente quieto e sério.
– O que foi?, perguntou o sr. Skosana, notando a súbita mudança de humor. Em que você está pensando?
– Estou pensando que fizemos exatamente o mesmo.
– Como assim?.
– Escondemos Jesus debaixo de tanta coisa que ninguém consegue mais vê-lo.
– De que você está falando, meu caro? Não acompanhei o raciocínio.
– Estou dizendo que há tantas camadas de cristianismo, tantas camadas de igreja – programas, regras, expectativas, julgamentos, costumes, comportamentos religiosos etc., que ninguém mais enxerga Jesus. Todos vêem as “coisas” – a religião, os prédios, pregadores interessados em autopromoção, pastores andando em carrões, desfilando títulos, reconhecimentos e aquilo que chamam de unção. Com tanta coisa por cima, como é que alguém vai conseguir enxergar Jesus? Para dizer a verdade, poderíamos eliminar Jesus e essas coisas todas seguiriam em frente.
– Hmmm, entendi, meu amigo. Mas será que você não está sendo duro demais? A situação é tão ruim assim?
– O quanto de Jesus as pessoas vêem no evangelho que a sua igreja e a minha pregam? Ele foi radical e disruptivo. Os líderes religiosos, os fariseus e outros com certeza o viam como um rebelde. Os políticos e os usurpadores do poder econômico o consideravam uma ameaça ao status quo. Foi por isso que o mataram! Você acha que nossas igrejas ameaçam o status quo? Ou fazem parte dele? Preferimos estar rodeados de pessoas respeitáveis, mas Jesus comia com “publicanos e pecadores”, com os excluídos da sociedade, com prostitutas e gente desse tipo! Nós somos o oposto! Vamos à igreja bem vestidos todos os domingos, afinal aquele é um lugar de gente boa e agradável. Quem não for respeitável não é bem vindo, e temos vergonha quando aparece gente assim. Somos “bons cristãos”, mas não somos muito parecidos com Jesus.
Ao deixar o amigo em frente a seu escritório, o sr. Skosana também estava pensativo. “Você me fez pensar, meu caro”, disse a Vuyani que descia do carro. Os risos da noite anterior e daquela manhã haviam evaporado, e ele estava sério. Foi um sr. Skosana bastante sóbrio que chegou ao estacionamento.
Ao entrar no prédio em direção à sua sala, ele parou por um momento e cumprimentou sua secretária.
– Segure minhas ligações por uns quinze minutos por favor, Mimi. Preciso de um tempinho sem ser interrompido.
– Sim senhor.
Ele sentou-se e abriu uma gaveta, pegando uma Bíblia que raramente usava. Abriu-a ao acaso no trecho que retrata Jesus chamando Pedro, André, Tiago e João. O sr. Skosana mal se lembrava de quando ainda não cria em Jesus. Seus pais haviam sido membros assíduos da igreja, e ele frequentara a escola dominical desde garotinho. Aos oito anos de idade, mais ou menos, “fez um compromisso” e “aceitou Jesus como seu salvador pessoal”. Mas ao ler que Jesus havia dito “Sigam-me”, começou a questionar. “Jesus não disse ‘Aceitem-me’, disse ‘Sigam-me’. O que será que isso significou para aqueles homens?” O sr. Skosana conhecia bem a Bíblia, e meditou a respeito daqueles homens, em particular Pedro. Deteve-se para pensar no quanto seguir a Jesus havia custado a eles. Havia sido uma jornada de crescimento e transformação de suas vidas. Não apenas isso, haviam se transformado em homens que, como Jesus, faziam o mundo os levar a sério. Onde quer que fossem, era como se Jesus estivesse ali. Ele recordou a ocasião em que os líderes religiosos, sentindo-se ameaçados pelo comportamento de Pedro e João, “lembraram que eles haviam estado com Jesus”.
O sr. Skosana olhou para sua sala. Fora bem sucedido e conquistara muita coisa. Tinha uma família adorável e uma boa reputação na comunidade. Ele baixou a cabeça sobre os braços cruzados sobre a mesa. “E eu, Senhor”, orou, “estou te seguindo? Acho que estou parado há muito tempo. Fiquei preso à respeitabilidade. As pessoas vêem meu aparente sucesso, minha bela casa, meu casamento perfeito e até minha posição na igreja, mas não vêem Jesus, vêem somente a mim. Nesta sala eu quase nunca penso que sou um seguidor de Jesus. É tão fácil cair na rotina de ser um bom gerente de banco e não pensar em quem realmente sou. Meu cristianismo aparece somente aos domingos. Às vezes fico tão focado em meu trabalho que me sinto dominado pelo sistema econômico, e sou frio e duro com os clientes em dificuldades. Será que o Senhor faria isso? Comprometo-me a te seguir, custe o que custar, a partir de hoje não quero mais esconder Jesus, mas mostrá-lo em meu comportamento, palavras e atitude”.
Quando o telefone tocou, ele percebeu que já haviam passado bem mais de quinze minutos. Atendeu, e Mimi disse: “O sr. Mfundo gostaria de falar com o senhor”. A reação imediata foi: “Oh, não!” Mfundo era bem pouco confiável, e certamente queria um novo empréstimo. No passado, o sr. Skosana inventaria uma desculpa ou uma mentirinha inofensiva para evitá-lo – mas um seguidor de Jesus não faria isso, faria?
– OK, deixe que ele venha falar com Jes... digo, comigo.